23/05/15, 10:06
Gene que muda sexo de mosquitos pode ser nova arma contra a dengue
O
Aedes aegypti é vetor de doenças graves como dengue, febre amarela,
febre zika e chicungunha, mas não são todos os mosquitos da espécie que
ameaçam a saúde humana. Os machos são considerados inofensivos, pois
apenas as fêmeas picam porque precisam de sangue para o desenvolvimento
de ovos. Com isso em mente, pesquisadores acreditam que uma proporção
maior de machos reduziria a transmissão de doenças, e uma nova
descoberta abre caminho para a mudança de sexo dos insetos por meio de
alterações genéticas.
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O estudo realizado por uma equipe do
Instituto Fralin de Ciências da Vida, da Universidade Virginia Tech,
identificou um gene responsável pela determinação do sexo nos mosquitos.
Batizado como Nix, o interruptor genético fica escondido no genoma dos
insetos, por isso nunca havia sido descoberto. Nos testes de
laboratório, os cientistas injetaram o Nix em embriões e descobriram que
mais de dois terços dos mosquitos fêmea desenvolveram genitais
masculinos. Quando o Nix foi retirado de exemplares adultos, usando um
método de edição do genoma, insetos machos desenvolveram genitais
femininos.
— O Nix nos proporciona oportunidades
para aproveitar a diferenciação sexual do mosquito para lutar contra
doenças infecciosas — disse Jake Zhijian Tu, professor de bioquímica no
Instituto Fralin.
A ideia, dizem os pesquisadores, é criar
estratégias de controle do mosquito, seja convertendo fêmeas em machos
ou eliminando seletivamente as fêmeas.
— Nós ainda não estamos lá, mas o
objetivo final é estabelecer linhagens transgênicas que forcem a
manifestação do Nix em fêmeas para convertê-las em machos inofensivos —
explicou Zach Adelman, professor associado no Instituto Fralin.
Já existem testes em andamento com o uso
de transgênicos para reduzir a população de mosquitos, inclusive no
Brasil. Em abril do ano passado, a Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio) aprovou projeto que libera a comercialização de
um espécime que ao copular com fêmeas nativas gera descendentes
incapazes de alcançar a vida adulta.
— Hoje pode-se fazer qualquer coisa com a
genética — afirmou José Maria Ferraz, professor da Universidade Federal
de São Carlos (SP) e ex-membro do CTNBio. — Mas existem riscos que
devem ser avaliados. Você está manipulando algo que levou milhares de
anos para se desenvolver na natureza.
Ao combater o Aedes aegypti, existe a
possibilidade de outras espécies, como o Aedes albopictus, assumirem o
seu lugar. Outra possibilidade é de os descendentes que sobreviverem com
a alteração genética serem mais eficientes na transmissão das doenças.
O Aedes Aegypti é uma espécie nativa do
continente africano, que começou a se espalhar pelo mundo a bordo de
navios no século XVIII. A espécie é tratada como questão de saúde
pública, por ser bem adaptada aos ambientes humanos e ser vetor de
graves doenças, entre elas a dengue. Segundo a Organização Mundial de
Saúde, a incidência da dengue vem aumentando nas últimas décadas.
Estimativas apontam para 390 milhões de infecções por ano, sendo que 96
milhões desenvolvem complicações clínicas.
— A redução seletiva de populações do
Aedes aegypti em áreas onde eles não são nativos teria um pequeno
impacto ambiental, e uma drástica melhoria na saúde humana — disse
Brantley Hall, que também assina o estudo.
Fonte: O Globo
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